sexta-feira, 7 de maio de 2010

Reynaldo Fonseca – Maneirismo no século XXI

Crítica para uma individual em São Paulo -2007


É surpreendente como a obra desse pernambucano permite lembrar de tantas referências de escolas e a nomes da história da arte. Contudo, vale ressaltar que os trabalhos de Reynaldo Fonseca não perdem em originalidade, marcados que são por sua forte personalidade. Depois de algum convívio, identificar as marcas pessoais do artista não é difícil e pode-se, mesmo, falar em um estilo próprio, inconfundível e facilmente identificável. O conjunto dos trabalhos reunidos nesta exposição individual permite tal constatação.

Suas figuras não são transportadas diretamente do mundo real para a tela o que faz dele – e aí reside uma de suas principais características – um pintor não-realista. O que vemos é o produto de uma ficção pessoal e idealista, onde até o uso de um discreto sfumato auxilia na criação de um universo onde o onírico é a regra e o real a exceção. Daí a sensação de estarmos diante de um imaginário inquietante, perturbador. Em seu trabalho, o artista lança mão de um vocabulário hermético e simbólico, não em suas formas – acessíveis ao olhar – mas em seus
significados – quando certamente nem tudo o que parece simples comporta apenas uma única interpretação.

Em grande parte de suas cenas do cotidiano há uma clara menção aos mestres alemães e flamengos do XVI e XVII. Aí estão certos ambientes de Vermeer, revividos pelo artista com uma luz mais solar. Seus retratos, talvez imaginários, remetem à obra de Ghirlandaio, Bonifácio Bembo, Domenico Veneziano e outros. De Caravaggio e dos caravaggescos vem certo tenebrismo – esses contrastes extremos do uso do claro-escuro, surgidos em meio a uma coreografia teatral. Reynaldo utiliza luzes e sombras com absoluta propriedade, para reforçar tanto a dramaticidade da cena, quanto sua intenção não-realista.

Pintor por excelência, tantas insinuações das obras de grandes mestres e escolas históricas não fazem dos quadros de Fonseca um mau anacronismo, muito pelo contrário, permitem o surgimento de um artista contemporâneo, que insere em seu desenho seguro e certeiro algumas expressões dos universos medieval, renascentista e barroco sem, no entanto, deixar de reforçar um anti-classicismo e uma grande ousadia. Por isso, talvez seja justo afirmar que Reynaldo Fonseca é um maneirista, no sentido histórico do termo. Tanto quanto alguns dos grandes surrealistas e, particularmente, Balthus.

Sua obra é feita para ser contemplada com vagar. Os múltiplos e inúmeros detalhes, a metalinguagem quase sempre com o caráter de um comentário irônico, o exercício de interpretação e a técnica apurada são motivos para fruirmos de seus quadros com tranqüilidade e paciência. Pode-se dizer, mesmo, que sua obra é quase que como um paradoxo, com todo um ambiente histórico de entorno e uma temática central muito atual.

Por ser a obra de um artista complexo, que vai buscar na história universal os elementos para transformá-la em uma algo mais acessível, podemos lembrá-lo como próximo do Movimento Armorial, criado pelo conterrâneo Ariano Suassuna. Seu nome não consta como integrante direto do Movimento, mas todo o ambiente criado por sua obra e os recursos por ele utilizados, faz dele um artista muito próximo do espírito do Armorial.

Independentemente de tantas referências, a obra de Reynaldo Fonseca merece lugar de destaque no universo artístico brasileiro e é mais do que justo destacar o valor de seus trabalhos, pela técnica requintada, pela temática bastante única e pela coerência do conjunto criado ao longo de décadas de trabalho.

Antonio Carlos Abdalla

Reynaldo Fonseca - Currículo Simplificado

Individuais

.1943 Grande Hotel, Recife/PE;
.1952 não localizado, Recife/PE;
.1958 não localizado, Rio de Janeiro/RJ;
.1971 Galeria Bonino, Rio de Janeiro/RJ;
.1972 Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro/RJ;
.1973 Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro/RJ;
.1974 Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro/RJ;
.1975 Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro/RJ;
.1979 Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro/RJ;
.1988 Galeria Estúdio A, Recife/PE;
.1993 Retrospectiva, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ;
.1994 Retrospectiva, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo;
.1997 Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba/SP;
.1997 Galeria Massangana, Recife/PE;
.2003 Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba/PR;
.2004 Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba/PR
.2007 James Lisboa Escritório de Arte, São Paulo.


Principais coletivas

.1972 Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, Galeria da Collectio, São Paulo;
.1973 5º Panorama de Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna (MAMSP), São Paulo;
.1976 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna (MAMSP), São Paulo;
.1976 O Desenho em Pernambuco, Galeria Nara Roesler, São Paulo;
.1976 O Desenho Jovem dos Anos 40, Pinacoteca do Estado, São Paulo;
.1977 Galeria Cronos, Belo Horizonte/MG, Waldir Simões Galeria, Curitiba /PR e 9º Panorama de Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna (MAMSP), São Paulo;
.1982 Universo do Futebol, Museu de Arte Moderna (MAMRJ), Rio de Janeiro/RJ;
.1983 Auto-Retratos Brasileiros, Galeria de Arte Banerj, Rio de Janeiro/RJ;
.1984 Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, Museu de Arte Moderna (MAMSP), São Paulo;
.1984 Tradição e Ruptura, Fundação Bienal, São Paulo;
.1986 Pernambucanos em Brasília, ECT Galeria de Arte, Brasília/DF; Território Ocupado, Escola de Artes Visuais/Parque Lage, Rio de Janeiro/RJ;
.1987 Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna (MAMRJ), Rio de Janeiro/RJ;
.1989 Cor de Pernambuco, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo; 33 maneiras de ver o mundo, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo;
.1990 Frutas, Flores e Cores; e Gatos Pintados, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo;
.1991 A Música na pintura, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo; Chico e os Bichos, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo; Siron, Reynaldo e Scliar, Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo;
.1993 O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, Galeria de Arte do Sesi, São Paulo;
.1994 O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, Museu de Arte Moderna
(MAMRJ), Rio de Janeiro/RJ;
.1997 Projeto Riscos e Rabiscos, Galeria Vicente do Rego Monteiro, Recife/PE;
.1999 Destaques da Pintura Brasileira, Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba/PR;
.2003 Autonomia do Desenho, Museu de Arte Moderna (MAMRJ), Rio de Janeiro/RJ e .2003 Tesouros da Caixa: arte moderna brasileira no acervo da Caixa, Conjunto Cultural da Caixa, Rio de Janeiro/RJ.

Bienais e salões de arte

.1943 XLIX Salão Nacional de Belas Artes - Divisão de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ;
.1944 L Salão Nacional de Belas Artes Divisão de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ;
.1949 VI Salão Anual de Pintura, Recife/PE;
.1950 IX Salão Anual de Pintura, Recife/PE;
.1951 LVII Salão Nacional de Belas Artes - Divisão de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ;
.1954 XII Salão Anual de Pintura, Recife/PE;
.1955 IV Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ;
.1956 XV Salão Anual de Pintura, Recife/PE (1º prêmio);
.1959 V Bienal São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo/SP;
.1967 IX Bienal de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo/SP
.1970 XIX Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro/RJ.
Possui obras nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu do Estado do Pernambuco, Monumento da Independência de Caracas, Mural no Banco do Brasil, no Recife, na coleção Gilberto Chateaubriand e em diversas outras coleções particulares do Brasil, França, Itália e Espanha.

Outra abordagem para o meu Blog

Faz um tempo que não venho aqui postar alguma coisa.

Gostaria de informar a todos que passo a representar as obras dos artistas plásticos pernambucanos Reynaldo Fonseca e Lúcia Helena, que passará a assinar Lucia H Redig!

É com muito orgulho que tomo esta decisão, divulgando assim a cultura de uma forma tão prazerosa.

Vocês poderão encontrar o currículo de Reynaldo e as obras que forem disponibilizadas por ele a cada mês.

Importante: Não sou uma galeria de arte. Estou comercializando as obras à preços do artista. Com relação ao frete, para qualquer parte do país, este será por conta do comprador.

Obrigado!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009